Pessoal, começamos o ano com mais uma postagem muito importante. A atual década é a Década dos Oceanos, cujos objetivos visam a preservação de ambientes marinhos. Por conta de aquecimento global, acidificação dos oceanos, poluição, sobrepesca e outros estressores, os recifes de corais estão rapidamente se perdendo. Cerca de 60% da Grande Barreira de Corais (foto ao lado) já morreu nos últimos 30 anos. Portanto, vamos praticar o aquarismo responsável, para ajudarmos com a solução, e não aumentar o problema.
Vocês sabiam que, após serem coletados, peixes marinhos passam por um processo de triagem? Aqueles que não são muito bonitos ou apresentam ferimentos ou características indesejadas, são descartados. Esse “descarte” não é muito bem documentado; em alguns casos são apenas devolvidos ao mar, em outros são sacrificados. A proporção de peixes descartados chega a 25% (Wabnitz et al. 2003). Esse tipo de situação triste mostra como o a indústria do aquarismo ainda tem muito a aprender.
A área ocupada por recifes de corais foi mapeada pela primeira vez em escala global há 20 anos. Dentre os três primeiros países com maior área recifal estão Indonésia e Filipinas (por conta da região do Triângulo dos Corais), e Austrália (por conta da Grande Barreira de Corais). A área para o Brasil ainda não foi estimada apropriadamente, mas deve girar em torno de 5.000 km2.
Uma boa notícia da aquicultura ornamental marinha – o excelente grupo de epsquisadores da Rising Tide Conservation conseguiram produzir jovens do borboleta Chelmon rostratus! Todo o ciclo larval foi descrito e fotografado. No entanto, ainda não há previsão de cultivo comercial em massa dessa espécie. Mas é um avanço importante!
Existem quatro tipos básicos de recifes no Brasil: recifes rochosos, recifes de arenito, recifes algais e recifes verdadeiros. Apenas neste último a maior ou grande parte da estrutura do recife foi construída por corais. No Brasil, temos três recifes verdadeiros: o Parcel do Manuel Luís, ao Norte do Maranhão; os Recifes do Complexo de Abrolhos; e o Recife da Ilha da Quiemada Grande, na costa de São Paulo.
Este organismo é a Convolutriloba retrogemma, a temida “planária vermelha” que se torna uma praga em aquários. Mas a realidade é que... este organismo não é uma planária! É uma acela. Antigamente, organismos como a C. retrogemma eram considerados platelmintos, que é justamente o grupo que representa as planárias; isso acontecia por conta da grande similaridade morfológica que possuem com planárias. No entanto, com a maravilha do avanço da biologia molecular e genética, foi confirmado que organismos como C. retrogemma são distantes de platelmintos e, portanto, não são planárias. E assim um novo grupo foi descrito: Xenacoelomorpha, que é o grupo que abriga as acelas. Portanto... nada de dizer que temos “planárias” em aquários – temos acelas!
Millepora alcicornis Este é , o famoso Coral-de-Fogo que é encontrado no Brasil desde a Região Norte até o Rio de Janeiro. Leva este nome por conta de suas células urticantes, que machucam a mão ao toque. No entanto, não trata-se de um coral verdadeiro. É um hidrocoral, pois pertence à classe Hydrozoa, que abriga hidras e muitas espécies de água-viva. Portanto, por conta de seu esqueleto calcáreo, M. alcicornis é um hidrozoário calcificante – um parente mais próximo de águas-vivas do que de corais. Infelizmente, essa espécie sofreu excessiva mortalidade por conta das mudanças climáticas, e não deve ser coletada para aquarismo ou ornamentação de maneira alguma.
Você sabe de qual país veio o seu peixe? E de qual região desse país ele veio? Sabe se a pesca está permitida nessa região? Sabe se ele foi coletado com alguma técnica proibida? Sabe se ele foi coletado com cianeto? Sabe em quantos países ele parou antes de chegar no Brasil? Sabe se ele passou por algum processo de purga? Pois é. A maioria dessas perguntas o aquarista não consegue responder. E isso tem um nome: falta de rastreabilidade. Infelizmente, quando um organismo é comercializado internacionalmente, essas informações são perdidas. E a conseqüência dessa falta de transparência é grave: não sabemos o mal que a coleta desse peixe pode ter feito ao ambiente. Vamos exigir dos órgãos ambientais e internacionais um maior controle e rigor desse tipo de informação!
Os Pseudochromidae são bastante territoriais. No entanto, o grau de agressividade exibido varia muito de acordo com a espécie. Algumas são extremamente dóceis, com o Pseudochromis fridmani. Outros podem ser mais agressivos em aquários pequenos, porém dóceis em aquários grande (como o P. aldabraensis). No entanto, alguns outros, como o Pictichromis paccagnellae (bicolor) são bem agressivos e somente se contentam com aquários de porte grande.
Sempre nos perguntam sobre o sexo do Yellow Watchman Goby (Cryptocentrus cinctus). Existe uma crença por aí de que o macho é amarelo e a fêmea é cinza (ou o inverso disso). Bem, não é muito por aí. Embora estudos sobre a biologia reprodutiva desta espécie ainda sejam ausentes, a cor não define o sexo. Exemplo disso é que todos os casais reprodutores da Eco-Reef são compostos somente por indivíduos amarelos. Embora investigações sejam necessárias, é provável que esta espécie seja um hermafrodita seqüencial. Os organismos podem mudar de cor, porém isso parece estar associado com uma questão ambiental ou social e não com o sexo. Portanto... mito quebrado!